Sunday, December 06, 2020

RESPOSTAS

E quando o silêncio é quebrado, seu íntimo revirado, sombras do presente no passado. Parece divertido? Perdi meus versos ao acaso, levados pelo vento, na janela, descaso. O sentido natural do tempo, seu peso, seus traços. Na viagem, já não ouço seus passos. Passa-tempo em dias escassos, curando falsos abraços, diletantismo, paço.
E quando apagarem-se as luzes, aposta-se na fé a esperança, quem conhece a dança? Pedirá a nota a quem sempre termina devendo resposta.
Verdade assim posta, cura-te das dores com os próprios temores. O tempo não esperará a vontade, submisso a vulnerabilidade. Metade, amizade, necessidade?
Nas rimas, a lealdade, procuram e respondem não só quando precisam, mas por verdade.


m.froes

06/12/2020

Saturday, October 24, 2020

ENSAIO SOBRE O TEMPO

Aprisionado em olhar sereno, na estupidez de um eterno aprendiz, busco em goles algum argumento, que sentencie a culpa do tempo, dando voltas em inúteis pensamentos.

Uma corrida sem sentido, que a chegada no tempo se encerra e, no fim, até mesmo as nossas dores, enterra. Por consolo ou falsa pena, chora e lamenta.

Me entrega o incondicional, travo uma batalha perdida, sendo imperfeito, ingênuo, mortal. Ergo a cabeça e sigo, mas a cada passo me vejo em maior conflito. A quem reivindico quando de mim é tirado o sobrenome? Usado, como fosse apenas emprestado, perdendo o que mais faria sentido na vida, de exemplo a um mero cargo, comprado. 

Não culpo mais os que desistem do tempo, quando o orgulho se esvai. Aceitam a sentença de culpa, perdem as forças na luta, apenas choram por haver outro “pai”.

Sussurro ao tempo, entregue à sorte, que zombe dos meus dias, até a minha morte, mas não mais da dor, como alento. De herdeiros, bastam os meus pensamentos.

Me prende no pouco que deveria me pertencer, mas me libertará e, neste dia, eu esquecerei dele, mas ele não poderá me esquecer.

m. froes 

25/10/2020

Tuesday, June 23, 2020

O tempo vai passando, vamos envelhecendo e amadurecendo. Costumamos ouvir dos nossos pais, avós e mais velhos o batido clichê que o melhor da idade é a maturidade. É conseguir ver as coisas de outra forma, lembrar de atitudes e decisões tomadas quando mais novo e pensar... achamos besteira até começarmos, de fato, a entendere e sentir.
“Ahh, se eu pudesse dar um conselho a ele...”. A serenidade, a clareza, as certezas, tudo muda bastante. Não diria que eu mudaria todos os erros, afinal, nosso tecido nada mais é do que uma costura do nosso passado com os nossos sentimentos. Aquele “jovem”, se a minha idade me permite chamá-lo assim, me fez ser quem sou hoje, mesmo que sem querer, sem saber. Meus acertos e aplausos lembro com felicidade e orgulho, porém poucas vezes. Mas os meus erros e fracassos não passam um dia sem me revisitar. Eles me fazem seguir em frente, repensar, por mais que em público ainda haja dificuldades em alguns pontos, lá no fundo há arrependimento, há mudança de atitude. Mas há coisas que cresceram em mim, que foram alimentadas, que me perturbam cada dia mais. 

Certa vez, numa mesa de bar com amigas queridas, ao tom de uma incrível cerveja gelada, ouvi delas relatos de assédios dos mais variados. Numa loja de departamentos, com 12 anos, uma delas foi assediada por um vendedor. Talvez o fato de eu ter uma filha tenha feito aquilo me tocar ainda mais, mas a sensação inevitável é: “em que mundo eu vivia? Como é possível eu descobrir isso, dessa maneira, a essa altura da vida? Que tipo de redoma me construiu? Em que mundo paralelo eu cresci?”. O pior é saber que o mundo foi o mesmo. Cego cuidadosamente num esforço coletivo. Foi uma noite em claro, um choro causado por uma mistura de culpa, por mais que eu não tivesse culpa, mas sentia que tinha. 

E todas as brincadeiras e ofensas que fiz, sem nem saber, a colegas de escola, que deviam ter receio de ir à lojas de departamento, ônibus, rua e colégio? Medo de encontrarem vendedores insaciáveis, mas também de gente como eu, com posturas e discursos impregnados de uma carga ofensiva, que jamais entenderei, de fato, o mal que podem fazer. 

E todos colegas que precisavam esconder a própria essência, controlar cada movimento, cada gesto, para gente como eu não apontar o dedo e rir, ridicularizar, porque a capacidade de amor deles era diferente da minha? Quantos pagaram com a vida, mesmo que ainda vivos e sem perder a vida, também por minha culpa? Por palavras inconsequentes minhas?

Quantos laços de vida precisarei perder para conseguir mudar ainda mais? Para ser capaz de não rir do que tanto ri? Para ser capaz de enfrentar quem não quer corrigir? Sair da posição de privilégios e defender o óbvio tem um custo necessário. Afastamos muitos que nos acompanham, parte da nossa história, mas nos aproximamos de nós, dos outros. 

Que quem crio não veja cores, não veja gêneros, não veja orientação. Que apenas veja. Que seja melhor do que pude ser. Que não descubra tão tarde o óbvio. Que nem precise descobrir.

De que serve tudo, se não podemos ser completos? Somos a nossa própria construção, somos o que vemos, o que sentimos, o que falamos. Mas somos também o que não queremos ver, o que escolhemos não sentir e o que silenciamos.

m.froes

24/06/2020

Sunday, April 26, 2020

ENSAIO DA VIDA

Fala da tua dor, tudo que não cantou, serena e incerta. Usa a minha voz, que agora cala, no silêncio do que sobrou, da minha calma. Traduz em memória, esgota a trajetória, que sequer foi iniciada. O tempo tratou de apagar, passou antes de parar. Tão longe quanto a fumaça, tragada a cada nota tocada, bebida a cada palavra valsada. Talvez não fosse valsa, só enredo de quase nada, versado aos ouvidos de ninguém, rima inacabada. De longe vejo a caminhada, na estrada que não alcancei.  Não há mais poetas, as ruas sonham caladas, amarguram a própria esperança, “a cidade abandonada”. Fecha os olhos, respira a tua alma, escuta nossa voz, se acalma.

m.froes
27/04/2020

Wednesday, March 25, 2020

PAUSA

Da licença ao retorno, apenas silêncio, uma pausa, versos que rimaram vida com alma! Embriagando-me dia a dia, do vazio às palavras. Calar-se em carne, escondendo-se em incapacidade. Quisera ter o dom das palavras, assim como a sua amizade, confidenciando-as a verdade. Não por precisar, apenas por necessidade. De que vale tudo, se não a entrega à arte? Não há como ser, sem doses inacabáveis de subjetividade. 
Apenas uma janela nua, livre, em contínuo retrato, alguns goles de vida, força e fragilidade. 
Preenchendo o peito sem regras, métricas, pretensão, tão somente por diversidade. Delírios pagam-se por si, valem a própria vida, a própria liberdade.
Não alteraria cada caminho feito, ainda que por cuidado, não evitaria, mesmo que soubesse. Não nascemos para compreender, mas para sentir, ser. 
Orgulho-me de cada verso escrito, de cada escrita imperfeita, de cada palavra não dita, cada falha cuidadosamente mal pensada. Tornaram-me quem sou, minha verdade.
Levarei meu tempo para cada poesia, cada eventualidade. Que cada alma possa ter suas possibilidades. Meus erros serão de todos, divididos em versos, não há facilidades.
Não há segunda chance, o passado veste-se em futuro. Talvez não haja o por quê, do contrário, para quê seriam as metáforas?
Cada segredo pertence a uma alma. Cada alma pertence a um segredo. Cada um em seu tempo. Cada tempo em seu momento. Cada momento em sua alma. 

m.froes
25/03/2020

Tuesday, August 06, 2019

ABRAÇO

No dicionário, um substantivo: abraço.
Mas vai além de um simples entrelaço,
Junção de mais de um braço.

É numa folha em branco, um traço,
No sufoco da alma, um espaço,
O respiro do amor, já tão escasso,
Ou até uma aventura, devasso.

Pode ser o começo, um primeiro passo,
Ou um recomeço, o desembaraço,
Um alívio, somente um despacho,
Ou até um adeus, estilhaço...

A saudade que já está por vir, abriga-se num abraço,
Na eminência da perda de uma parte de si, um pedaço.
Guarda o perfume crasso que se vai, um humilde paço.

Quantos anos podem caber num abraço?
Capaz de desatar o nó de qualquer laço,
De lapidar qualquer engasgo, um chaço,
De dizer o que não se diz, enlaço.

Na esperança realizada cabe um abraço, 
Ou na falta da esperança, cansaço,
Na comemoração daquele golaço,
Ou na pior derrota, no fracasso,
E para enfrentar o medo, um rebraço.

Se é mesmo substantivo esse tal de abraço,
É de substantivo então que respiro, vivo e me faço.

m. froes
14/07/2019
A cada dia, no presente de agora,
Revisito a palavra, rima de outrora,
Alimentando também meu passado,
Cobrando de mim, lado a lado.

A palavra que alimenta a alma,
Dançando em versos, na palma,
É aquela que não respeita o mestre,
Costurando a própria métrica que veste.

Quisera eu ter nascido poeta,
E a cada partida, a palavra certa,
Ilustrar o sentido da caminhada,
Antes de viajar, conhecer a estrada.

Mas a linha, por vezes, foi pesarosa,
Mesmo quando em versos, em prosa,
Palavras em chamado sem sobreaviso,
Improvisando a própria vida com improviso.

No vazio da completa indisciplina,
Regando a ignorância com adrenalina,
Cumprindo minha íntima regra,
Fingindo para mim ser um poeta.

Resignificando adiante as palavras,
Envolvendo em rimas as escalavras,
Desenhando novamente os desvios,
Reescrevendo atento os avios.

m. froes
08/05/2019
Podem até desligar o nosso som,
Transformar nossa lágrima em algoz,
Só que não calarão nossa voz,
Fazer história sempre foi nosso dom.

Podem tentar sujar nossa trajetória,
Mas não podem apagar nossa memória,
Se for para acender outra vela,
A cada uma acesa, um novo verso se revela.

Pra ser feliz não precisamos de anuência,
O nosso samba sempre foi de resistência,
Na sua identidade sempre teve a nossa digital,
Da sua ignorância, fazemos nosso instrumental.

A cada “Silva” que vocês nos levam,
Nosso enredo e andamento se elevam,
Ecoando nos peitos do nosso povo,
Entoando a queda de vocês de novo.

Pode tentar sujar nossa trajetória,
Mas não pode apagar nossa memória,
Se for para acender outra vela,
A cada uma acesa, um novo verso se revela.

m. froes
27/04/2019

Wednesday, October 17, 2018

De pé, frente ao nosso amanhã


“Não há dor, você está desistindo”.
Apoia-te em cada nota nesta dor,
Erguendo-se em brava esperança,
Carregando o assento junto ao horror,
De pé, frente ao seu amanhã.

Lágrimas nunca foram em vão,
Nelas aprendemos a navegar,
Delas traremos nossos filhos,
Por elas escreveremos cada dia,
De pé, frente ao nosso amanhã.

As vozes e dores dos nossos pais,
Correm e ecoam em nossas veias,
Alimentando cada refeição vazia,
Refrescando cada sol impiedoso,
De pé, frente ao amanhã deles.

Enquanto houver palavras,
Haverá rimas e a poesia não se calará.
Enquanto houver audição,
Haverá notas e a música não se mutará.
Enquanto houver vida,
Haverá humanidade e a arte não se curvará.

m.froes
17/10/2018